Depois de reunião com prefeito, servidores da educação decidem cruzar os braços
Por
Nilson Chaves
A
questão do Piso Nacional da Educação está deixando o prefeito de Itamaraju,
Manoel Pedro Rodrigues Soares (PSD), numa sinuca de bico, entre a cruz e a
espada; naquele dilema: _se correr o bicho pega se ficar o bicho come.
Se
por um lado existe uma Emenda Constitucional que determina que nenhum professor
pode receber menos do que R$ 1.451 para uma jornada de 40 horas semanais; por
outro lado, a Lei Complementar 101/2000, também chamada de Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF), limita em 54% o volume total de recursos usados
no pagamento de pessoal e pune o gestor que ultrapassa 95% desse limite, o
chamado ‘Limite Prudencial’ de 51,30%.
Em
2011, o piso era de R$ 1.187 e foi garantido pelo município de Itamaraju quando
o prefeito concedeu um reajuste de aproximadamente 22% à categoria, depois de
três anos sem reajuste. Entretanto, para este ano, com base nos números apresentados
aos participantes de uma reunião ocorrida na manhã desta sexta-feira (27/04) na
sala de reuniões da Prefeitura Municipal de Itamaraju, o município está
impossibilitado pela Lei de Responsabilidade Fiscal de conceder o reajuste.
Exemplo
Digamos
hipoteticamente que o município de Itamaraju tenha uma receita anual de 100
reais. De acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal, os valores pagos aos
servidores municipais não deve ultrapassar R$ 51,30 ano. Se a Prefeitura tem 50
funcionários no total, ainda falando por hipótese, e cada funcionário recebe 1
real por ano, mesmo que queira, o gestor não poderá conceder nem 10% de
reajuste, senão vai estourar o ‘Limite Prudencial’.
Se
este limite for ultrapassado, a Lei de Responsabilidade Fiscal determina que a
Prefeitura deva providenciar a diminuição das despesas com folha de pagamento
nos dois quadrimestres subseqüentes. Caso o município ultrapasse os 54%, o
gestor pode ter suas contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas dos Municípios e
ser obrigado a demitir servidores efetivos, o que seria uma catástrofe.
Para
complicar ainda mais a situação, os demais servidores do município de
Itamaraju, excluindo-se os lotados na Educação, estão com seus salários
defasados, sem reajuste há mais de 10 anos “e essa situação precisa ser
revista”, diz o secretário municipal da Administração Jandervan Cerqueira,
apontando a questão como prioritária para o atual governo.
Durante
a reunião, a contadora Débora Gavazza Alves Carvalho fez uma demonstração
contábil destacando o comportamento dos numerários do FUNDEB no ano passado e
uma projeção para 2012. A Lei do FUNDEB diz que o município deve investir mais
de 60% do valor do fundo no pagamento de pessoal, “foi investido 70,72%, ou
aproximadamente R$ 14,8 milhões”, assegura Carvalho.
Contadora Débora Gavazza |
Em
2011, o município teve uma despesa total de aproximadamente R$ 29,7 milhões com
folha de pagamento, isso representou um percentual de 52,53%, número acima do
Limite Prudencial. Conforme determina a LRF, o município tem dois quadrimestres
para reduzir o percentual. De acordo com a projeção para 2012, quando estima-se
uma arrecadação do FUNDEB de R$ 23,1 milhões, o valor arrecadado será
ultrapassado pelos valores investidos na Educação em mais de 4,2 milhões de
reais. Fazendo necessária a utilização de recursos do município para equilíbrio
das despesas.
Ainda
de acordo com a projeção, o município deve gastar com pessoal ativo, o montante
de R$ 44,2 milhões para uma arrecadação total de R$ 80,93 milhões;
ultrapassando não o Limite Prudencial, mas o limite de 54%, imposto pela LRF.
Diante
disso, não houve jeito, apesar de entender que os servidores da Educação e, não
só os da Educação, merecem o reajuste, não houve alternativa ao prefeito Manoel
Pedro, a não ser dar a notícia aos representantes da APLB/Sindicato, “infelizmente
o município não tem condição neste momento de dar o reajuste, se existe uma
alternativa para esse impasse nós vamos buscá-la, mas eu preciso que os
senhores entendam que não é porque não quero, é porque eu não posso, eu não
posso passar por cima da lei”, disse.
Apesar
de não poder conceder o reajuste nesse momento, a Prefeitura Municipal de
Itamaraju tem procurado pagar em dia aos seus servidores, os salários
referentes ao mês de abril, por exemplo, foram depositados em sua totalidade durante
o dia desta quinta-feira (26/04), quando poderiam ser pagos até o quinto dia
útil do mês de maio. Além disso, boa parte dos professores já recebe mais que o
estipulado pelo Piso Nacional da Educação, alguns chegando a receber até R$ 5
mil mensais.
A
diretora da Delegacia Costa Sul da APLB/Sindicato, Jovita Lima Silva dos
Santos, chegou a argumentar que “a lei do piso é pra ser cumprida”, mas depois
assumiu que há uma briga da categoria em nível nacional para rever essa
situação da Lei de Responsabilidade Fiscal. Para o assessor jurídico da PMI,
Marcos Aurélio, o Governo Federal criou o benefício para os professores, mas
não deu condições aos municípios de pagar o piso, “eles tinham que ter
flexibilizado a Lei de Responsabilidade Fiscal”, ressalta.
A
reunião serviu também para esclarecer sobre alguns problemas que tem sido
explorado na mídia com finalidade política, um deles é a questão da merenda
escolar. De acordo com a secretária de Educação, Dilce Moura, o problema
ocorreu por conta dos prazos da licitação, “fizemos uma compra emergencial por
carta convite até a conclusão da licitação, mas o processo foi mais longo que
esperávamos e os produtos acabaram, agora o problema foi resolvido em
definitivo, a empresa que venceu a licitação já está fornecendo a merenda”,
tranquiliza.
O
outro fato esclarecido foi quanto ao Concurso Público. A secretária de Finanças
Lucilene Curvelo anunciou em primeira mão que o certame vai acontecer, “o
edital para a licitação que vai escolher a empresa organizadora do processo
seletivo já foi publicado no Diário Oficial do Estado, no último dia 25 de
abril, e a sessão está marcada para o dia 29 de maio”, explica Curvelo.
Durante
a reunião foi exibido um vídeo de uma entrevista concedida pelo governador
Jaques Wagner ao programa Balanço Geral da TV Itapoan onde ele fala que o
estado não tem condição de dar o reajuste pedido pela categoria, de 22%,
alegando também o limite imposto pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
Participaram
da reunião, os representantes da APLB/Sindicato, membros do Conselho Municipal
de Educação, secretários municipais, vereadores, o prefeito municipal e a
imprensa.
Apesar
do comprometimento do prefeito e secretários em buscar uma alternativa para a
resolução do problema, mas uma vez os servidores da Educação foram
irredutíveis. Já haviam se comportado assim quando deram um prazo para a
Prefeitura até o dia 16 último passado e mesmo assim resolveram deflagrar a
operação tartaruga. Agora, mesmo diante de todas as justificativas
apresentadas, a categoria decidiu em assembléia deflagrar uma paralisação por
tempo indeterminado, o que pode aumentar ainda mais o índice de evasão e
diminuir a arrecadação do município para os próximos anos.
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