Bolsista da CAPES descobre yaravirus brasiliensis, que infecta amebas


Bióloga pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Graziele Oliveira possui mestrado e doutorado em Microbiologia, pela mesma instituição. Em seu trabalho desenvolvido durante o pós-doutorado, na França, a pesquisadora identificou um vírus que infecta as amebas, o yaravirus brasiliensis.

Fale sobre o seu trabalho.

Durante o pós-doutorado realizei a caracterização de um vírus que infecta amebas, o yaravirus brasiliensis. O vírus iara (em inglês, Yaravírus) foi isolado a partir de amostras coletadas na Lagoa da Pampulha. Imagens de microscopia eletrônica mostraram que esse vírus mede aproximadamente 80nm, o que corresponde a um tamanho pequeno, se comparado com outros vírus que infectam amebas descritos até o momento. No entanto, a característica mais inusitada referente a esse vírus é o seu genoma, que apresenta mais de 90% dos seus genes nunca antes descritos. Isso pode culminar em alterações na classificação de vírus de DNA, bem como em estudos futuros de caracterização de novas vias metabólicas.

Como se deu o interesse em trabalhar com o assunto?

Em 2013 me inseri no Grupo de Estudo e Prospecção de Vírus Gigantes (Gepvig) que tem como alvo a descoberta e caracterização biológica e molecular de vírus que infectam amebas, com destaque para os vírus gigantes. O tamanho reduzido do vírus iara e seu caráter fastidioso despertou nosso interesse em estudá-lo mais profundamente, principalmente seu genoma. Isso nos trouxe interessantes surpresas. O principal objetivo da pesquisa foi caracterizar uma nova espécie viral em termos biológicos e moleculares.

Quais são essas surpresas?

O sequenciamento do genoma do yaravirus brasiliensis mostrou que os seus genes não apresentavam similaridade com nenhum outro vírus ou organismo disponíveis nos bancos de dados. Ou seja, a maior parte dos seus genes são novos e nunca foram estudados, apresentando assim um potencial muito interessante para estudos futuros e novas descobertas. Essas e outras características reforçam que o vírus iara deverá formar um novo agrupamento taxonômico, provavelmente uma nova família viral.































Qual a importância deste trabalho para a realidade brasileira?

O Brasil é um país com ampla biodiversidade, se tornando importante a busca e descoberta de novos vírus. Isto aumenta os conhecimentos sobre nossa diversidade e, consequentemente, abre portas para estudos ecológicos e evolutivos. Além disso, considerando-se que o vírus apresenta mais de 90% de seus genes desconhecidos, novas vias metabólicas podem ser caracterizadas, o que pode representar um potencial biotecnológico e farmacológico. Além disso, a imprensa e pesquisadores de várias partes do mundo discutiram e debateram o seu caráter inédito.

O vírus representa algum perigo para os seres humanos?

O vírus iara apresenta como hospedeiro amebas de vida livre. Sendo assim, não são capazes de infectar humanos e outros animais. Não representando nenhum risco para nós.

Qual a importância do apoio da CAPES?

A CAPES exerceu importância fundamental no desenvolvimento desse estudo, uma vez que, financiou minha bolsa e permitiu que a pesquisa fosse desenvolvida no exterior, ampliando as possibilidades para os estudos desse novo vírus.

Quais são os próximos passos?

Continuar a caracterização biológica mais aprofundada, em busca de novas vias metabólicas que poderão ser úteis em aplicações futuras. Além disso, continuaremos em busca de novos vírus, que podem estar relacionados ao iara, contribuindo para uma melhor compreensão da evolução dos vírus e de outros organismos.

(Brasília – Redação CCS/CAPES)

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