Jogo sujo: Pré-candidato do PP transforma programa de rádio em palanque político

NILSON CHAVES

Se a coisa continuar como está, o Juízo Eleitoral da 172ª Zona, que compreende os municípios de Itamaraju e Jucuruçu, vai ter muito trabalho no transcurso dessas eleições 2016. O raciocínio é embasado nas primeiras atitudes que configuram desobediência à legislação eleitoral. Na quinta-feira da semana passada, dia 11 de agosto, a emissora de rádio da família Carletto, denominada Terramar FM, deu os primeiros sinais de que não vai obedecer a legislação.

A emissora veiculou uma entrevista ao vivo com o pré-candidato a prefeito do mesmo partido do Deputado Federal Ronaldo Carletto (PP), onde esse pré-candidato, conhecido como Leo Lopes, atual vereador pelo município, falou por mais de 35 minutos ininterruptos, numa entrevista extremamente tendenciosa, na qual desclassificou os principais adversários, além de, nitidamente, se autopromover, destacando o que achava ser seus pontos positivos.

A emissora em questão tem uma assessoria jurídica (pelo menos é isso que é dito no fechamento do programa no qual a entrevista foi realizada) e o pré-candidato é advogado, portanto conhecedor da legislação, mesmo assim, sabendo que sua participação ao vivo num programa de rádio configurava crime eleitoral, ignorou a lei.

A atitude dos proprietários da emissora e do próprio pré-candidato põe em cheque a idoneidade do grupo político, já que passar por cima da lei, além de ser um crime, demonstra não somente desobediência, mas abuso de poder econômico, pois eles conhecem a lei e mesmo assim a desobedecem. Esse tipo de atitude do grupo político torna o processo eleitoral instável, já que prejudica os demais candidatos que, diga-se de passagem, têm adotado postura de obediência extrema a lei.

O interessante é que, na própria entrevista, o pré-candidato menciona sua participação numa reunião com a presença do juiz eleitoral, Dr. Heitor Awi Machado de Attayde, e de todos os pré-candidatos e representantes de partidos, onde foi falado sobre o que era ou não permitido aos pré-candidatos. 24 horas depois, o pré-candidato do PP dá o mau exemplo, demonstrando que não costuma seguir as regras do jogo. 

O jogador que participa de uma disputa e passa por cima das regras torna explícito que não joga limpo, muito pelo contrário, joga sujo, trapaceia e, desse modo, é uma pessoa que não inspira confiança. Isso é ainda mais preocupante quando se trata, não de uma pessoa apenas, mas de um grupo inteiro. Essa determinação em passar por cima das regras, se confiando nas garantias do poder econômico, torna o indivíduo inescrupuloso, além de totalmente injusto, porque as regras servem exatamente para equilibrar a disputa.

A Lei nº 9.504/1997, lei eleitoral, em seu artigo 45, incisos I, III a VI, determina que a partir do dia 6 de agosto de 2016, é vedado às emissoras de rádio e de televisão, em programação normal e em noticiário, veicular propaganda política ou difundir opinião favorável ou contrária a candidato, partido, coligação, seus órgãos ou representantes; e dar tratamento privilegiado a candidato, partido ou coligação; entre outras coisas.

Essas informações são do conhecimento da emissora, dos proprietários da emissora incluindo a pré-candidata a vice – Marizete Carletto, do presidente do PP - Maxwell Costa de Oliveira - que também coordena a emissora e do pré-candidato do PP a prefeito, vereador Leo Lopes. Eles todos sabiam que não podia veicular uma entrevista com aquele conteúdo, onde o partido e seu pré-candidato foram privilegiados em detrimento dos demais, mesmo assim o fizeram. E demonstram que vão continuar passando por cima da lei e peitando a justiça para conseguir chegar ao poder. Isso é demasiadamente preocupante.

Por outro lado, o eleitor consciente já questiona: o que será capaz de fazer quando chegar ao poder, um pré-candidato que se diz bonzinho, correto, íntegro, honesto, mas que passa por cima da lei e joga sujo? A entrevista do pré-candidato foi, na realidade, um comício montado, palanque com direito até a aplausos dos mais íntimos no final, o que também não é permitido por lei, os comícios só poderão acontecer a partir desta terça-feira, 16 de agosto.

E como não se bastasse a atitude arrogante do pré-candidato em peitar a justiça eleitoral e desafiar a lei, no dia seguinte ao da entrevista do pré-candidato, 12 de agosto, a emissora veiculou uma entrevista com seu proprietário, o Deputado Federal Ronaldo Carletto, mais uma vez pra falar de campanha eleitoral e exaltar a candidatura de seu afilhado político.

Durante a entrevista, veiculada às 12h26 com duração de 38 minutos, o parlamentar atacou o pré-candidato apoiado pela atual gestão e defendeu com veemência a pré-candidatura do vereador Leo Lopes. Mas ele foi ainda mais longe, extrapolou todas as proibições legais quando falou em pesquisa de opinião pública por duas vezes. Seguramente, esse jeitinho tão particular de fazer política da família Carletto, passando por cima de todos e de tudo, vai dar muita dor de cabeça aos que tem a função de coordenar o processo eleitoral.

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