Executivo da TECH Indústria confirma implantação de fábrica em Itamaraju na antiga área da Delfa

Para Mário Angênica, questões burocráticas são as maiores responsáveis pelo atraso de dois anos na implantação do empreendimento

NILSON CHAVES

Neste mês de agosto completam 3 anos do anúncio da implantação da Tech Indústria no município de Itamaraju. Infelizmente para o povo da cidade e para o próprio município, o projeto ainda não saiu do papel. Na ocasião do anúncio, um dos sócios da empresa, o senhor Mário Carmelo Angênica (42 anos), assinou carta de intenções com o Governo do Estado, na qual o ente se comprometia a dar os incentivos necessários (isenção no ICMS) para que a empresa se instalasse em território itamarajuense.


Mesmo compromisso foi firmado com o prefeito de Itamaraju, Manoel Pedro Rodrigues Soares, no qual a Prefeitura se comprometia em ceder a área com cerca de 10 mil metros quadrados, licenciamento ambiental, parte da infraestrutura necessária e os incentivos municipais (isenção de impostos municipais). A empresa, por sua vez, entraria com a estrutura, equipamentos e capacitação, num sistema de treinamento inovador em nível de Nordeste.

O gestor sabe da importância da implantação de uma fábrica de médio porte no município e acredita que isso pode representar a porta de entrada para mais indústrias, por isso tem se empenhado nesse sentido.

Porém, nem tudo depende só do município. Aliás, é bom que se diga que se dependesse só do município, não teríamos perdido a Dakota e a Delfa. A não vinda dessas empresas causou profunda frustração naqueles que querem uma Itamaraju com mais empregos para seu povo, no entanto, demonstra também que apesar de não ter obtido êxito, a atual gestão está no caminho certo quando mobiliza sua equipe para trabalhar na busca por novas empresas que tenham interesse em se instalar aqui.

Em se falando da implantação da TECH Indústria, além do interesse do município, há o interesse pessoal do sócio Mario Angênica que, apesar de ter nascido em Minas Gerais, morou em Itamaraju por sete anos, de 1982 a 1989, período em que estudou nas escolas Estadual Presidente Médici, São João Evangelista e Estadual Inácio Tosta Filho. Depois de ter deixado Itamaraju, indo para o Espírito Santo, onde concluiu o ensino médio, e, de lá, seguindo para a Itália onde cursou engenharia eletrônica e passou a trabalhar na área, sempre quis trazer para Itamaraju uma empresa da área da tecnologia, que pudesse alavancar a economia local.

Angênica, que está em Itamaraju, conversou com nossa equipe na tarde desta segunda-feira (03/08) durante aproximadamente uma hora e, mais uma vez, reafirmou que quer ver a indústria instalada em Itamaraju, porque morou neste e aprendeu a gostar da cidade. Durante a entrevista ele atualizou algumas informações e reclamou do atraso na implantação da fábrica por conta principalmente, do que chamou de “burrocracia”.

Os avanços no projeto

A estrutura inicial da fábrica era bem resumida, precisava de apenas um hectare de área. Inicialmente ia se produzir apenas o Arduíno, uma placa eletrônica multifuncional que pode ser usada no desenvolvimento de vários produtos que utilizam a eletrônica. No entanto, em 2013, a TECH Indústria participou de uma feira em São Paulo e ampliou contatos com outros parceiros. A partir daí se abriu um novo horizonte com a possibilidade de produção na fábrica de Itamaraju de outros produtos como rastreadores via satélite para veículos automotores, equipamentos para iluminação pública a LED, relógios de ponto e sistemas de segurança patrimonial como alarmes ou câmeras.

Mas, o que mais alavancou o projeto e fez com que a área precisasse ser ampliada foi a inclusão dos inversores e painéis fotovoltaicos para micro sistemas de produção de energia. Para esses produtos a demanda é 20 vezes maior que a oferta no Brasil, por isso atualmente a maior parte dos equipamentos são importados, mas deixarão de ser quando a fábrica iniciar sua produção.

Com exceção dos painéis fotovoltaicos e do Arduíno, que são tecnologias desenvolvidas na Espanha e Itália, respectivamente, todas as demais tecnologias foram desenvolvidas no Brasil. O grupo empresarial do qual a TECH Indústria de Itamaraju faz parte, é o dono da patente do Arduíno, pois foram os sócios italianos desse grupo que desenvolveram a placa com mais de mil e uma utilidades. “O limite para utilização do Arduíno é a criatividade humana, eu mesmo desenvolvi um bafômetro usando uma placa Arduíno”, conta Angênica.  
Assinatura do Protocolo de Intenções em 2012
O sócio lembra que quando esteve em Salvador para assinatura da Carta de Intenções, descobriu que o Polo Petroquímico de Camaçari, aqui na Bahia, utiliza a tecnologia Arduíno, “o Sistema de tratamento de esgoto de Vitória-ES usa Arduíno, a equipe que venceu o campeonato brasileiro de robótica recentemente usou Arduíno, um brasileiro ganhou um prêmio internacional por produzir óculos para cegos e esses óculos usavam a placa Arduíno, então temos o orgulho de ter projetado uma placa que hoje é utilizada em vários países do mundo e o que queremos é poder fabricar essa placa aqui em Itamaraju, queremos que essa placa leve o nome desse município para o mundo”, ressalta Angênica.

Outro grande benefício para o município com a implantação da TECH Indústria será a vinda de outras fábricas, como a Ariel, do setor de tecnologia, que também demonstrou interesse em se instalar no futuro Polo Tecnológico de Itamaraju, mas só viria depois que o Polo estivesse em plena atividade. Uma empresa de fabricação de circuito impresso também pode se instalar no município para atender a demanda da TECH Indústria e fornecer para outros mercados.

O novo projeto deve gerar cerca de 900 empregos diretos quando em plena atividade. Com a necessidade de ampliação da área, a TECH Indústria não mais será implantada no antigo espaço, mas vai utilizar área e infraestrutura que seriam destinadas a Delfa. Por conta dessa mudança, a escritura do imóvel que já estava pronta, teve que ser refeita e isso tem sido um entrave burocrático de grande proporção para o processo de implantação.

A burocracia, chamada de “burrocracia” pelo executivo, tem, segundo ele, impedido que a empresa inicie suas atividades em Itamaraju. Angênica reclama principalmente da falta de comunicação entre os órgãos, da quantidade de papeis exigidos e da desinformação generalizada. Demonstrando descontentamento, Angênica citou países como a Coréia do Sul, onde é possível abrir uma empresa em um dia. “Minha preocupação é a de que com o passar dos anos, o que era atual se torna obsoleto, por isso essa demora representa um prejuízo incalculável”, reclama.

Num autêntico desabafo ele afirmou que a fábrica não vai gerar energia atômica nem produzir produtos poluentes, não vai usar água em grande escala, muito menos gases poluentes, “o gás que será utilizado é o mesmo que compõe 78% da atmosfera, que é o Nitrogênio, então não sei porque tanta exigência”, questiona, confessando que está cansado de sair de Vitória e vir para Itamaraju ou ir para a Europa para resolver questão burocrática, “saiu de Vitória achando que está tudo pronto, quando chego aqui ainda tem pendência, isso é desgastante”.

Além da falta da escritura e da licença ambiental (já há a um protocolo da entrada da solicitação), a implantação da fábrica enfrenta mais um contratempo. A área, onde será instalada, foi ocupada recentemente por cerca de 400 sem teto, “eu fico sem compreender porque essas coisas acontecem”, enfatiza.

No atraso de dois anos, sete meses foi de espera pela assinatura do novo Protocolo de Intenções, já que o primeiro tinha validade de 24 meses. A demora se deu por conta da mudança de governo e também por conta da mudança na estrutura administrativa do Estado. Antes, quem respondia pela implantação de novas empresas era a Secretaria de Indústria e Mineração, agora essa responsabilidade passou para a Secretaria de Desenvolvimento.

A Tech Indústria, que tem como sócios Martino Gianluca (desenvolvedor do Arduíno), Antonetti Antonela, além do próprio, Mário, é de Itamaraju e foi criada em dezembro de 2012, especificamente para atuação nesse município. Ela integra um grupo que atua desde 2006, de nacionalidade italiana e suíça. O carro chefe desse grupo empresarial é a placa de circuito eletrônico ‘Arduíno’.

O Arduíno é um produto de alta tecnologia muito cobiçado entre os que trabalham com produção eletrônica. No ano passado foram vendidos 1 milhão de unidades no mundo e, no Brasil, mesmo sem representantes e publicidade, foram vendidos mais de 10 mil unidades, por isso a intenção do grupo é passar a produzir o Arduíno aqui no país.

Já existe uma empresa em Vitória, a ‘Tech Solutions’, da qual Mario Angênica também é sócio, que importa, exporta e distribui o produto em vários estados do Brasil. Os equipamentos da fábrica de Itamaraju, virão da Itália, Coréia e Estados Unidos.

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