Cortes no orçamento da União sinalizam que Pedro acertou na decisão de não realizar o São João
NILSON CHAVES
Pela segunda vez em pouco mais de cinco anos de mandato o prefeito do município de Itamaraju, Manoel Pedro Rodrigues Soares, decidiu pela não realização da tradicional festa de São João. Como já era de se esperar, a decisão do gestor acabou acarretando numa verdadeira revolução nos quatro cantos da cidade e, em enxurradas de reclamações originadas principalmente por pessoas que gostam da festa ou dependem desta para garantir um incremento em seus orçamentos.
Todos sabem, e o prefeito de Itamaraju não está alheio a isso, que não realizar o São João é uma medida extremamente impopular, principalmente em se tratando de Itamaraju, onde o festejo é absolutamente tradicional. Por conta disso, ninguém pode contestar as razões que fizeram com que o gestor voltasse atrás na realização da festa, afinal, ninguém tomaria tal decisão, sabendo que seria duramente criticado, se realmente não fosse obrigado a isso por circunstâncias mais fortes.
No ano passado, o gestor enfrentou uma verdadeira batalha judicial para garantir a realização do evento, e sem a colaboração da maioria dos que hoje alardeiam aos quatro cantos que o município não pode deixar de realizar a festa. Os mesmos partidários do festejo junino que hoje publicam seu descontentamento com a não realização do evento se omitiram e se calaram no ano passado, deixando o gestor e sua equipe numa luta solitária em prol da realização do evento.
O interessante é que até os que se dizem profissionais de imprensa, que ficam como abutres pousados na cerca torcendo para que a vaquinha vá para o brejo, que hoje bradam contra a decisão de Pedro, a um ano atrás criticavam veementemente o gestor por lutar, até judicialmente, para garantir a realização do evento.
Só para relembrar, ano passado foi mesmo ano de eleição, mas foi também ano de Copa do Mundo, a condição financeira do município e a conjuntura econômica do país possibilitavam a realização da festa. A crise apenas se anunciava, mas ainda escondia seus impactos sob a bandeira vermelha do partido que teimava em afirmar que tudo estava indo bem.
Nessa atmosfera, o gestor decidiu, ainda em meados do ano passado, que esse ano realizaria o São João e com o mesmo intuito de sempre, o de manter uma crescente, fazer a festa melhor do que foi a última, tanto que chegou a abrir licitação para contratação da empresa que forneceria a estrutura a ser montada na antiga Praça do Rotary. Manoel Pedro, mais do que ninguém, sabe da importância do evento para a economia do município, entretanto, como administrador responsável que é, sabe que não pode realiza-lo se as circunstâncias não forem favoráveis, sob pena de enfrentar sérios problemas administrativos nos meses vindouros.
Em 2013 o evento não foi realizado principalmente porque o recurso que estava sendo reservado para tal teve que ser destinado ao pagamento de precatórios e outras dívidas herdadas de gestores que passaram pelo município e não tiveram o mesmo comprometimento que o atual. O fato de Itamaraju ter conseguido até o momento manter os serviços essenciais, os pagamentos de servidores e fornecedores em dia, e realizar obras com recursos do tesouro municipal, provam que a decisão tomada em 2013 foi acertada, apesar de difícil.
E mais uma vez, o prefeito de Itamaraju tem a coragem de se expor, de não realizar o evento quando a expectativa de uma grande parcela da população era pelo seu acontecimento. Numa briga onde cada um olha o seu lado, afinal tem os querem a festa porque gostam de festa, tem os que lucram com ela, ganham dinheiro comercializando seus produtos e serviços nos mercados formal e informal, tem os que recebem seus parentes vindos das regiões mais longínquas atraídos pelas atrações de peso e tem os da oposição que querem que o município gaste todo o recurso e não deixe nada de reserva para eventuais contratempos.
E há de se dizer que, se a festa de São João fosse mesmo como os da oposição pintam, uma razão para se superfaturar e desviar recurso público, o “gestor espertalhão” que só existe na cabeça deles (fruto de uma imaginação maliciosa em demasia proporcionada pelo seu próprio meio), não deixaria de realizar um São João sequer, afinal um evento não realizado representaria prejuízo para o gestor mal intencionado.
Com tanta gente defendendo seu ponto de vista, o prefeito também tem o direito, como administrador, de defender o município, porque é ele quem está no controle e é ele que será responsabilizado caso venham ocorrer problemas futuros, como por exemplo a estagnação da máquina proporcionada pela queda na arrecadação. Até o momento, o gestor e sua equipe têm garantido à população que a máquina pública continue funcionando, e isso só é possível porque, tanto o gestor quanto sua equipe, administra com o pé no chão, “não se pode realizar uma festa só pra ficar bem com os que querem a festa”, defende Pedro.
Assim como todos têm demonstrado sua indignação com a não realização do evento, indignação movida pelos interesses particulares de cada um, o gestor também toma a decisão movido por um interesse, no entanto não é o seu particular, mas o interesse da máquina administrativa e, por tabela, os interesses de uma coletividade.
“O que as pessoas precisam compreender é que os compromissos de uma gestão não se restringem tão somente a um mês ou a um evento, tudo tem que ser criteriosamente planejado, estudado, para que amanhã [julho a dezembro] não falte recursos para o pagamento dos salários dos servidores, fornecedores, manutenção dos serviços essenciais e outros compromissos de uma gestão”, defende o prefeito.
Foi esse o pensamento que motivou o administrador Pedro da Campineira a cancelar o evento a caminho de sua realização. O cuidado e o zelo com a coisa pública foi o combustível encorajador dado ao gestor para que ele mais uma vez tomasse a decisão de não realizar a festa. A queda na arrecadação do principal recurso do município (Fundo de Participação dos Municípios – FPM) bem como a queda na arrecadação dos impostos municipais, aliadas ao aumento do custo da máquina pública (subiram combustíveis, energia elétrica e tantos outros produtos e serviços em razão destes), fez com que se acendesse a luz de alerta e, essa conjuntura levou o prefeito a voltar atrás numa decisão que já havia tomado, a de realizar o evento.
Um prognóstico feito por uma empresa de consultoria das mais respeitadas do país, que presta serviços para a Associação Brasileira de Prefeituras (ABRAP) e Associação Brasileira de Câmaras Municipais (ABRACAM), tendo como base dados da Secretaria do Tesouro Nacional - entidade responsável pelos repasses do Fundo de Participação dos Municípios a todos os entes federados do país, mostra em estimativa absolutamente confiável, uma queda na arrecadação dos municípios da Bahia nos meses de maio, junho e julho de 2015. Se for observada à tabela, o leitor verá que os valores vão diminuindo a cada mês, sem falar que destes valores ainda serão computadas as deduções com INSS, entre outras. Os três meses da estimativa sugerem que a arrecadação deve continuar numa tendência decrescente até dezembro do ano em curso.
Muitos agora criticam veementemente o gestor pela não realização do evento e exaltam os administradores de outros municípios que devem realizar a festa, no entanto, os próximos meses serão o senhor da verdade para Pedro e para os demais. Vamos aguardar para ver como estarão as Prefeituras da região, incluindo a de Itamaraju, daqui a seis meses. Só o tempo vai poder mostrar quem, afinal, tem razão, os que decidiram cancelar ou os que mantiveram a realização da festa.
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