Autoritarismo marca retorno do presidente Chico

NILSON CHAVES

Era para ser uma sessão tranquila e harmoniosa, afinal estavam presentes membros de várias igrejas evangélicas e católicas do município e, uma destas, a Cristã Maranata, realizou um culto em ação de graças pelo retorno do presidente Francisco Carlos Barbosa – O Chico do Hotel, que retornava de licença médica para tratamento de um problema cardíaco.


Infelizmente, faltou bom censo ao presidente, seus assessores e aos vereadores de oposição, que misturaram o sublime momento do culto a Deus num espaço de bate boca e mesquinharia política. O cenário foi de céu a inferno. O fato é que a mesa diretora da Câmara decidiu homenagear quase todas as igrejas evangélicas e católicas do município com a entrega de certificados, no entanto, dada a desorganização e o fato de querer fazer um evento dessa envergadura, de última hora, cerca de 70% das igrejas não compareceram.

Não se sabe ao certo se o presidente queria mesmo agradecer às igrejas pelas orações ou se queria público para seu discurso político vazio. Se foi com o segundo objetivo, mais uma vez, a oposição demonstrou sua incompetência até para articular, porque quando o presidente Chico estava falando, a maior parte das pessoas que foi à Casa de Leis para participar do culto já havia saído.


Sorte deles que se pouparam de ver a cena vergonhosa do cerceamento do direito de se expressar proporcionado pelo presidente Chico ao vereador Adriano Pinaffo. Há muitos anos, não se vê na Câmara Municipal de Itamaraju, uma postura tão arrogante, prepotente e ditadora como foi a do presidente Chico. Para quem ama a democracia e acredita na liberdade de expressão e no embate ideológico sadio, aquela postura foi como uma apunhalada vil e covarde.
Como tudo aconteceu

Depois do culto e da leitura e aprovação da ata da sessão anterior, vários vereadores fizeram uso da palavra para desejar sucesso e sorte ao presidente Chico do Hotel. Um destes foi o ex-presidente Rubens do Hospital. Ele disse desejar que Chico pudesse realizar um trabalho de excelência para todos os vereadores e todos os moradores de Itamaraju. A palavra todos, nesse contexto, parecia ter um significado muito mais amplo, com o sentido de equidade, imparcialidade, igualdade.

No uso da palavra alguns vereadores trouxeram de volta o assunto do encascalhamento da estrada da Fazenda Palmeira. Vereador Leo Lopes se posicionou em favor do colega de oposição Portugal defendendo a criação da CPI, mesmo depois do caso ter sido esclarecido pela Prefeitura Municipal de Itamaraju.

Nesse sentido, o vereador Rubens do Hospital pediu um aparte a Leo e defendeu que antes de ser aberta qualquer CPI, os vereadores devem primeiro apurar os fatos, falou isso dada a confusão que o vereador Portugal fez quando foi procurar o investimento feito no local errado, Portugal foi até a Fazenda Palmeira no Corte Grande e a Prefeitura fez o serviço de encascalhamento na Palmeira da região de Campo Alegre.

Portugal por sua vez voltou a afirmar que ele não estava enganado e que a documentação a qual teve acesso era da região do Corte Grande. Talvez por saber de fato que o encascalhamento fora feito numa região que ele desconhecia, Portugal inovou nos seus questionamentos e cobrou a licença ambiental da origem do cascalho. O vereador agora quer aumentar a burocratização das obras de encascalhamento. Como se já não bastassem as dificuldades existentes, o vereador Portugal quer agora dificultar ainda mais a realização das obras de recuperação das estradas do interior.


Vereador Pinaffo voltou a afirmar que o serviço foi feito na região de Campo Alegre e pediu inclusive a confirmação do vereador Valzão, que segundo ele, transitou pela estrada recentemente. Como bom vereador de oposição, Valzão afirmou que a estrada da região de Campo Alegre foi encascalhada, mas questionou a qualidade da estrada que liga a Fazenda Palmeira ao Assentamento Corte Grande.

As discussões seguiam da forma mais natural possível, até que o presidente resolveu falar. Vereador Chico foi mais um que se posicionou pela apuração do investimento feito, se negando a acreditar nas explicações dadas pela Prefeitura Municipal de Itamaraju. Num dado momento, o presidente desrespeitou o posicionamento do colega Pinaffo, quando deixou transparecer que o vereador era usado pela Prefeitura para falar o que esta mandava, “pô vereador você é meu amigo, não deixa as pessoas te usar não”. Antes já havia dito que a estrada recuperada era “estrada do vereador, onde o vereador passava todos os dias”.

Quando foi pedido um aparte por Adriano Pinaffo para tentar se defender dos ataques do presidente, Chico não concedeu e fez pior ainda, negou o uso da palavra ao vereador Pinaffo, que não havia ainda usado e tinha o direito de usar. Negou ao vereador o direito de se defender das afrontas que o ridicularizaram. Curiosamente, Chico, enquanto ainda falava, cedeu um aparte ao vereador Portugal, porque sabia que esse é vereador de oposição e ia dizer algo que fosse agradável aos seus ouvidos.

Vereador Jânio ainda tentou convencer o presidente a dar a palavra ao colega Pinaffo, mas acabou indignado com a negativa do presidente, “Vossa Excelência está usando o cargo de presidente para se beneficiar”, disparou Jânio. Pinaffo então pegou o microfone e disse: “até agora eu não usei a palavra, eu quero usar a palavra, eu tenho o direito de usar a palavra”. Mas Chico se mostrou irredutível. Pinaffo continuou, “eu quero que o senhor entre no carro comigo e vamos ver a estrada, o senhor vai ver com seus próprios olhos se foi ou não foi feito o encascalhamento, o senhor não anda, vamos comigo ver se a estrada foi ou não foi encascalhada”, desafiou.     

Fazendo ouvidos de mercador, Chico deu seguimento aos trabalhos com a ordem do dia. O fato ocorrido ontem na Câmara Municipal de Itamaraju serve de alerta para os vereadores da bancada de situação, porque da mesma forma que impediu um vereador de se manifestar, tolhendo-lhe um direito que é seu, pode também impedir qualquer um dos demais.

O vereador Francisco precisa entender que a Câmara não é formada de uma opinião, mas de quinze opiniões. Ele é apenas o presidente não o dono do Legislativo, não pode arbitrar, mas reger harmoniosamente. O presidente deveria se espelhar no seu antecessor, Rubens do Hospital, que foi um exemplo de respeito ao estado democrático de direito enquanto presidente.

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