Nota da Juventude do PT da Bahia sobre a greve da Polícia Militar
Nos últimos dias
o estado da Bahia participou de momentos de tensão com relação à Segurança
Pública. A greve de um setor da PM trouxe reflexões profundas e importantes
sobre algumas situações por que passa nossa sociedade.
A ASPRA,
associação de PMs que dirige o movimento, decretou greve na última quarta-feira
e enquanto estratégia de mobilização, resolveu ocupar a Assembleia Legislativa
da Bahia. Para chamar atenção, utilizaram táticas que na nossa avaliação, pouco
agregaram para legitimar o movimento: apropriação de ônibus e trancamento de
ruas, atos públicos com utilização de armas e a possibilidade de estarem
envolvidos com saques e violências generalizadas na cidade. Todo este conjunto
colaborou para causar pânico entre a população e uma situação de descontrole
geral.
Por ter sido
construído anteriormente a qualquer tentativa de negociação e sem haver um
processo de convencimento da sociedade sobre suas pautas, tais métodos levaram
também a uma forte tensão com o governo, que se colocou resistente a estabelecer
um diálogo mais direto para atender às reivindicações dos grevistas.
É fato que não
apenas a categoria da PM passa por situações delicadas no nosso estado, apesar
dos avanços conquistados pelo governo Wagner. Se é verdade que o governo
construiu políticas públicas de segurança fazendo investimento em viaturas,
armamentos e aparatos novos e contratação de pessoal, também é verdade que os
PMs não possuem direitos básicos, como o pagamento de insalubridade e
periculosidade. Eles têm também baixos salários, o que muitas vezes determina a
qualidade e disposição para o trabalho, além do sustento digno das
famílias.
Se o governo
criou programas de segurança pública numa tentativa de realizar uma segurança
mais humanizada (Pacto pela Vida), também é verdade que esta política não
conseguiu sair de sua cultura militarizada, violenta, agressiva, que espanca e
mata jovens negros/as da periferia, mulheres, LGBTs e que não respeita
trabalhadores/as e estudantes em seus momentos de reivindicação. Não esqueçamos
que esta mesma PM foi a que bateu em estudantes várias vezes, nos trabalhadores
do MST e em outros sindicalistas. Se por um lado deveriam promover a paz, a
presença da PM muitas vezes não significa isso para a população. A segurança na
grande maioria das vezes é construída por meio da promoção do medo.
Desta forma, há
que se legitimar o movimento dos trabalhadores que estão em greve, há que
respeitá-los neste momento, agindo de forma diferente do que um Estado
repressor, que lembramos bem dos tempos do terror carlista, faziam conosco
quando éramos os/as manifestantes. Há que se esgotar o diálogo, ter calma e toda
a paciência necessária. Há que se garantir, ao mesmo tempo, a segurança da
população, principalmente a da periferia, que tem sido a mais prejudicada diante
desta situação, como veiculam os canais de comunicação.
É necessário
também refletir sobre o nosso modelo de segurança, que de fato, não assegura a
paz para a sociedade. Temos que ter uma polícia humanizada e não militarizada. O
modelo atual é arcaico, falido e rememora as práticas da ditadura militar,
promovendo chacinas diárias, atentando principalmente contra a juventude mais
pobre e trabalhadora. Ao passo que temos que ter políticas mais incisivas e
estruturais no combate às desigualdades sociais.
Além disso,
faz-se também necessário reconsiderar os entraves legais existentes para a
sindicalização da categoria. A existência de um sindicato, para além da questão
organizativa, permite que haja uma politização do processo de reivindicações
legítimas dos PMs enquanto classe trabalhadora. O que se percebeu nesta greve é
que a falta de uma direção política legitimada e organizada possibilitaram
graves erros na condução do movimento. Impedir que os trabalhadores da polícia
militar se constituam enquanto categoria sindicalizada demonstra ser uma via
ineficiente para garantia da segurança pública.
Neste momento,
reforçamos a necessidade do diálogo e negociações contínuas, e afirmamos que é
necessário que os grevistas entreguem suas armas e que paremos já esta situação
de violência. Que o governo atenda as reivindicações necessárias e possíveis, e
que tenha tranquilidade para aplicar a punição dos comprovadamente envolvidos
com crimes nos últimos dias e anistie os trabalhadores que estão apenas
reivindicando seus direitos.
A Juventude do
PT da Bahia vem a público externar suas opiniões sobre os ocorridos, e conclama
que os movimentos de juventude que tem referência na nossa política se organizem
para pedir o fim pacífico para esta situação, ao tempo que chama a sociedade
para uma reflexão profunda sobre os problemas que envolvem a política de
segurança de nosso estado.
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